domingo, 19 de abril de 2009

Maratona BTT Cidade de Trancoso, durinha p.b. ... e com belas paisagens...

Ora aqui está um relato que me está a deixar dissonante na abordagem a fazer...

O certo é que vou partilhar sensações divergentes que tive hoje de manhã nesta Maratona. Antes de mais, nasci e vivi em Trancoso até aos meus 18 anos, é o local que mais visito desde que de lá saí para ir estudar para fora. É onde vivem os meus pais e um irmão (o mais velho). É o sítio onde eu realmente gostaria de viver, onde há pessoas que considero terem "marcas de personalidade" semelhantes às minhas, onde conheço muita gente, de vista, de "bom dia ou boa tarde" e outros com quem convivi na infância, adolescência e juventude...

Ora, a rapaziada que anda metida no BTT são daqueles com quem nunca tive grande proximidade, mas sei quem são e que fazem as coisas sem pretensiosismo e apenas com a vontade que lhes vai no sangue por fazerem BTT... No entanto, esta maratona teve falhas a que não estou habituado aqui pela zona do Porto. Não me vou alongar muito a coisa, mas dois pontos: (1) foi pouco divulgada e acabou por ter poucos participantes (cerca de 40) e (2) as sinalizações do percurso eram insuficientes. As sugestões são 2, que transmitirei quando voltar ao convívio com os meus conterrâneos, (1) utilizar o Fórum BTT (verdadeiro “jornal” da actividade BTTista nacional) e (2) utilizar placas, com setas florescentes nos cruzamentos que possam gerar mais dúvidas, principalmente em descidas, para que sejam bem visíveis (estratégia que tenho encontrado por aqui pelo norte, neste tipo de eventos, e que ampliam a visibilidade dos percursos nos cruzamentos mais complicados... mas mais haveria a melhorar...).

Por outro lado, esta Maratona teve um lado muito positivo. Não tenho grande historial de participações em eventos deste género, no entanto, o que mais tenho gostado no BTT é dos locais, dos ermos, dos percursos e da natureza a que acedemos com esta modalidade. Desde Valongo, Póvoa do Varzim, Vila do Conde, Serra da Estrela (fiz uma Maratona da Serra da Estrela num dos primeiros nevões do Inverno passado)... etc... Tudo maratonas que gostei. Mas a de Trancoso foi a mais espectacular que fiz, com as paisagens, as picadas (longas e bem duras), as descidas técnicas, mais do que rápidas, os soutos, os rebanhos, os cães, as zonas de calçada romana, os ribeiros... Sou de Trancoso e fiquei maravilhado. Já assim tinha sido quando no fim-de-semana da Páscoa (o anterior) fiz o reconhecimento da segunda parte do percurso, mas hoje vi o todo e estava 100%. Parabéns a quem escolheu o trajecto, porque tinha tudo, no momento certo, descidas técnicas seguidas de subidas, com travessias de ribeiras, single tracks no meio de giestais densos, caminhos de calçada romana que quando subiam eram verdadeiras escadarias, isto, logo depois de 4Km em que passamos dos 450mts de altitude para os 800mts... muito duro.



Quanto ao ponto de vista do BTTista, aqui vai o relato:

8:35, saí de casa de bicicleta e fui para a concentração nas Portas d'El Rei, onde estava pouca gente e me informaram que estariam presentes cerca de 30 BTTistas. Poucos, muito poucos, para o que era esperado pela organização. Cheguei a pensar que pudesse ser um dia só para amadores, mas não, lá estavam dois ou três craques que puxariam pela prova até onde desse. Havia depois uma "gama média", com a qual eu me tentaria meter.

Eram quase 9:30 quando foi dada a partida (estava marcado para as 9:00). Comecei por tentar seguir o primeiro grupo que se criou, cerca de 10 BTTistas (da Maratona e da Meia-maratona, que se separariam ao fim de 4 Km)... Começou logo a correr mal, falhei mudanças várias vezes numa altura em que o ritmo era forte, para se criarem logo os diferentes níveis de atletas. Não consegui seguir o primeiro grupo e fiquei com dois colegas que acabaram por seguir para a Meia-maratona. O que menos queria estava a acontecer. Na zona do percurso que desconhecia, sem ninguém à minha frente para ter como referência e guia pelo percurso, estava sozinho à procura das fitas penduradas num lado ou doutro dos trilhos… Andei verdadeiramente às fitas :), a ser fi(n)tado. Primeiro engano no percurso e voltei para trás. Pouco depois, segundo engano e fui apanhado por 4 BTTistas, dois deles estavam com um andamento mais rápidos e eu acabei por ficar pelo meio. Descontraí um pouco e baixei o ritmo. Acabei por deixar fugir estes dois companheiros e com a ânsia de os alcançar, acabo por voltar a enganar-me… segui em frente quando deveria ter virado 270º à direita (tenho pouca experiência de orientação pelas marcações de fitas - nas provas que tenho feito, como há muitos inscritos, vou sempre em grupos relativamente extensos). Pouco depois era para iniciar uma picada e quando já ía embalado na descida tive que abrandar, reduzir mudanças e... tombo. Fui ultrapassado pelos dois ciclistas que tinha na minha traseira e acabei por segui-los na primeira longa picada. Desde esse momento, só voltaria a separar-me destes 2 parceiros a cerca de 10 Km da meta. Cheguei a andar muito próximo deles, mesmo encostado, meti conversa, mas eu não era do grupo e… optei por seguir o meu ritmo, tendo-os sempre à vista. As descidas eram sempre em terreno arenoso ou em granito, ora solto, ora em lajes que pareciam uma escadaria... Por esta altura, era uma constante o encontro com pastores, ovelhas e... cães, muitos cães Serra da Estrela, arraçados pela mãe natureza. Uma nova picada, no meio de um giestal e começávamos a preparar a longa descida dos 900mts para os 450mts. Antes disso, um engano num cruzamento acabou por nos juntar novamente aos cinco ciclistas que anteriormente seguíamos juntos. Perdemos aproximadamente 5-10 min. e tivemos que andar num sobe e desce até encontrarmos o trilho certo (pelos vistos, alguém tinha retirado as fitas daquele cruzamento). Lá iniciamos a descida e eu acabei por deixar fugir os quatro companheiros. Já na zona plana, próximo de Minhocal-Freches, voltei a ter bem à vista os dois ciclistas e, numa altura em que estava mesmo muito próximo, optei por abrandar e aproveitei para me alimentar. Voltei a relaxar um pouco porque sabia que o mais difícil iria começar em breve. Já nos Vilares, no meio da aldeia, perdi-me destes dois colegas e encontrei os que seguiam na dianteira e me avisaram que havia um abastecimento mais abaixo (eles já seguiam na direcção da meta e eu lá fui para o abastecimento onde aproveitei para beber água e me reencontrar com os meus “parceiros forçados”. Incentivei-os a retomar a prova e... lá fomos para o Alto da Broca. Duro, muito duro, principalmente depois de 50 Km... No topo estava a 25mts dos companheiros e chegámos à estrada e, no cruzamento seguinte, lá estava a minha família. O meu filho gritava “força força”, abrandei e ainda trocámos umas palavras... Dei espaço aos companheiros porque sabia que havia mais 2Km difíceis e técnicos, uma calçada romana, que mais parecia uma escadaria e um caminho de pedra solta. Lá apeie e, mal respirei, retomei a saga. Seguímos por estrada 2 Km e chegámos a uma zona de soutos, descidas técnicas e uma vista sobre Trancoso a partir do fundo de um vale nos 700mts de altitude. Desde a zona de asfalto que tinha perdido de vista os 2 parceiros da Maratona. Procurei forçar a pedalada para os voltar a apanhar, mas não dei com eles. Quando iniciei a última subida para Trancoso, avistei ao longe aqueles que seria o grupo de dois BTTistas que estaria mais avançado que os meus "companheiros". Percebi que estavam estoirados e que ao meu ritmo os alcançaria em breve. Assim foi, passei por eles na última picada, quando apearam porque já tinha sido muito duro. Na fase final, mesmo junto à casa dos meus pais, no bairro onde vivi desde os meus 14 anos, abrandei, procurei respirar e comecei a pensar na recuperação. A meta ali estava, ao fim de 4h 18m 25s (pelo meu cronómetro - 4h 21m segundo a organização). Fiquei no 10º lugar e ainda perguntei pelos dois companheiros que estariam à minha frente e, disseram-me, que já tinham chegado, mas que vinham pela "parte de cima da estrada"... tendo visto sobrancelhas a franzirem.

Mais tarde, em conversa com o meu pai ele disse-me que vários foram os participantes que seguiram pela estrada nos últimos 10-12Km… Para mim, já são vários os eventos em que isto acontece, normalmente sempre que não há postos de controlo, como foi o caso da Maratona de BTT Cidade de Trancoso. Pergunto-me porque é que esta rapaziada se inscreve na Maratona quando têm as Meias-maratonas. É claro que a resposta poderia ter sido, porque "foi mais dura do que esperava”, o que, para mim, é o caso desta. Mas, também, qual é a graça de fazer isto apenas em parte…

O melhor: os trilhos (aqui fica o link do track).

O pior: não haver postos de controlo.

Agora já só penso na Golden Marathon Carlos Lopes, dia 10 de Maio.

1 comentário:

Maratona das Cataratas do Iguaçu disse...

Rui !
Estamos seguindo e lendo seu blog. Inclusive colocamos entre nossos favoritos. Convidamos você, para conhecer nosso blog. Se quiser seguir, para nos será um prazer.